Fiquei reparando com algum pormenor hoje as imagens dos professores em Cabinda (terra natal) que por suposta obrigação/indução e/ou cultura do medo, tomaram parte da chamada “marcha da juventude pela paz”, promovida pelo MPLA e suas adendas, por via página do Facebook da Secretaria provincial da Educação.
Concordando com alguém que levantou a perspectiva tomada pelo poder hegemônico em Angola de que só as manifestações promovidas pelo governo e suas adendas (Conselho Nacional da Juventude e outras ONGs ramificadas) são justas e de patriotismo, levanto a preocupação da necessidade de se pensar numa formação mais política dos professores.
Essa defesa considera o fato de ser essa classe profissional que tem a missão histórica de preparar a classe trabalhadora, que prevejo junto da população mais jovem poderá forçar uma real mudança em Angola. A defesa que tomo vai na necessidade de se promover uma construção contínua de pensamento crítico coletivo para a pessoa angolana, processo que entendo deverá ter nos professores os principais catalisadores.
Há sinais de uma tendência ainda pouco estudada que sugere estar em curso em Angola uma mudança na formação docente tornando os cursos mais técnicos, mais focados nas competências, para a avaliação em larga escala (exemplo do exame nacional piloto, experimentado em 2022) em detrimento de uma formação mais política, crítica e reflexiva que potencie a consciência de classe e compromisso social. Com isso, o mais importante parece ser o domínio e aprimoramento de técnicas para ensinar e avaliar, para cumprir orientações superiores e programas estruturados, com forte “policiamento” do professor em sala de aula e na escola.
Um projeto em curso que torna os professores menos conscientes das necessárias lutas, podendo pegar duas evidências:
1. O que está a acontecer com à adesão à greve nas universidades públicas, onde se pode notar que a fraca formação política dos professores tende a prejudicar mais do que ajudar nas lutas e interesse da classe. Muitos, como nomeou alguém “intelectuais do arroz e peixe frito” tudo fazem para desmerecer a luta e desmobilizar companheiros.
2. A falta de debate e lutas no processo de encerramento dos cursos de licenciatura em filosofia e em pedagogia nos Institutos Superiores de Ciências da Educação… Quase ninguém analisou os direcionamentos e implicações desta medida política pelo governo.
Apesar de compreender que eventualmente ainda não estejamos preparados para esse debate em Angola, vale começar propondo duas ações iniciais que resultam de minhas atuais leituras:
1. Pela iniciativa de uma formação política via sindicalização (com ações e intervenção junto do SINPROF-Sindicato Nacional dos Professores e do SINPES-Sindicato Nacional dos Professores do Ensino Superior), preparando seus associados para os desafios da luta pelas políticas de valorização do trabalho docente;
2. Pela discussão do reforço do currículo dos cursos de formação inicial de professores com disciplinas que potenciem o pensamento crítico coletivo, quais sejam: (i) pensamento político, (ii) direito e filosofia política, (iii) filosofia da educação, (iv) economia da educação, (v) financiamento da educação, (vi) legislação educacional e direito à educação…
Faço um ponto e vírgula, reforçando que uma formação mais política dos professores pode permitir uma consciência de classe mais forte e compromisso social.
Não basta nem bastará dizer “A nossa geração não pode falhar” para que as necessárias mudanças em Angola aconteçam. Será preciso muita inteligência e união na luta.
[…]
Professor Chocolate Brás, 19 de abril de 2023
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