Cerca de dez anos atrás, em Boston, Amanda se apresentava na rua como estátua viva — mais exatamente, uma estátua de noiva com 2,5 metros de altura e o rosto pintado de branco. A distância, era possível ver um transeunte que parava, punha dinheiro no chapéu na frente da caixa e então sorria quando Amanda fitava amorosamente os olhos daquela pessoa e lhe estendia uma flor do buquê que tinha nas mãos. Seria mais difícil me ver. Eu era aquela que fazia o maior desvio possível para evitar a estátua viva. Não que eu não deixe a minha cota de dólares nos chapéus dos artistas de rua — deixo, sim. Só que gosto de ficar a uma distância segura, e aí, da maneira mais discreta possível, ponho o dinheiro e volto depressa ao anonimato. Eu faria de tudo para evitar contato visual com uma estátua. Não queria uma flor; queria passar despercebida.
A distância, Amanda Palmer e eu não temos nada em comum. Enquanto ela se atira sobre a multidão num show em Berlim, sem nada no corpo a não ser o ukulelê vermelho e os coturnos, ou conspira para subverter a indústria fonográfica, estou cumprindo minha vez no rodízio do carro, compilando dados ou, se for domingo, talvez assistindo à missa na igreja. Mas este livro não trata de ver as pessoas a uma distância segura — aquele lugar sedutor em que muitos de nós vivemos, nos escondemos e para o qual corremos em busca do que pensamos ser segurança emocional. A arte de pedir é um livro sobre o cultivo da confiança e da maior proximidade possível com o amor, a vulnerabilidade e a conexão. Uma proximidade incômoda. Perigosa. Bela. E a proximidade incômoda é exatamente onde precisamos ficar se quisermos transformar essa cultura de afastamento e desconfiança fundamental.
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